Dia 23/08/2010 – Travessia Itaparica - Aratu
Levantamos às 7:40 hs para voltar a Aratu, pois precisamos puxar o barco hoje. Eu estava um pouco melhor, apesar da noite mal dormida por causa da febre. Quando começamos a sair, vimos dois lindos saveiros, os barcos que antigamente eram usados para fazer todo o comércio na região, velejando! Como são lindos e como navegam bem, com sua mestra enorme e uma pequena, mas importantíssima bujinha! Seu mastro é feito de biriba, madeira extremamente flexível e resistente, também usada para fazer o famoso berimbau.
O vento estava gostoso e favorável. A travessia estava muito boa, mas entreguei o comando para a tripulação e fui descansar, para me recuperar totalmente. Quando atravessamos a baia e chegamos perto das marcações de entrada para a ilha de Maré, voltei e assumi o comando. Entrando no canal, alguém olhou para trás e viu um enorme navio entrando no mesmo canal que estávamos. Encostei no lado esquerdo do canal e deixei o “bichão” passar, com alguma preocupação por parte da tripulação. Navios têm prioridade em entradas de canal, por terem baixa manobrabilidade em locais apertados. Ele passou bem, fomos atrás dele e entramos no canal de Aratu. Ele parou após a fábrica de bolachas (ai, que cheiro bom!!!) e três rebocadores o giraram 180 graus, enquanto passávamos encostados na boia de entrada da baia de Aratu.
Liguei para a marina, combinei a puxada para mais tarde e fizemos um churrasco. Este quase não saiu, pois havia acabado o álcool líquido do barco. Ventava forte, situação ótima para fazer churrasco quando temos álcool. Mas quando não temos... problema! Tentei acender o fogo com álcool gel e o danado nem pegava fogo. Coloquei dois acendedores próprios para churrasqueiras e quem diz que acendiam? Gastei uma caixa de fósforos e mais da metade deles apagavam antes de tocarem a brasa. Tentei colocar papel queimando embaixo do carvão, que estava pequeno, perfeito para acender churrasqueiras, e nada! Só fumaça. Já sei; pinga! “- Jonas, pega uma garrafa de pinga aí dentro! Pinga, hein, não cachaça!”. Lá veio a pinga, derrubada com parcimônia e muita dó sobre a brasa. Encostei o palito acesso e nada. O vento apagava o fogo. Idéia: “- Vou pegar o maçarico portátil do barco!”. O maçarico não acendia de jeito nenhum! Levei o maçarico para dentro do barco e o acendi no fogão. Ao sair do barco, antes de chegar na brasa, o vento o apagava! Já estava desistindo do churrasco e pensando em esquentar a frigideira, quando resolvi tomar uma atitude drástica: lasquei gasolina do motor de popa, com óleo dois tempos e tudo, no carvão e toquei fogo! Lindas labaredas subiram e torci apenas para não estragar o gosto da carne. Deixei queimar bem antes de colocar a carne e o churrasco ficou ótimo. Nunca mais vou deixar faltar álcool no barco!!!
O próximo capítulo do dia foi a puxada do barco. O Marcelo, funcionário da marina veio ao Travessura e o comandou para colocar na carreta. Puxa daqui, empurra dali, ajeita acolá, tira de novo, põe outra vez, mergulha, amarra, empurra com o bote, empurra com os dois botes e, depois de mais de uma hora de trabalho cuidadoso, com um grupo de várias pessoas, fora e dentro da água, o Travessura estava em seco para pintar o fundo, com as tintas anti-incrustantes fornecidas pelos nossos apoiadores Zirtec e WEG Tintas! Que sufoco. O trabalho dos rapazes foi excelente, mas sempre dá um frio na barriga de qualquer dono de veleiro vê-lo ser retirado da água. Sucesso!
Fui ligar a internet, pois havia ficado sem comunicação em Itaparica, e não ela não funcionou! O problema, então, não era falta de sinal em Itaparica. Deve ser o modem ou cabo de conexão. Toca tirar cartão, recolocar cartão, apertar modem, trocar fio, trocar porta USB e por aí vai! Resolvi dar umas “porradas” nele, antes de atirá-lo do convés para quatro metros abaixo. Nada! A cada mudança eu fazia um teste, tendo que ligar e desligar o notebook!!! Imaginem minha paciência como estava. Resolvi apertar bem o conector do chip e segurá-lo. Liga de novo o computador e... funcionou! Funcionou! Não acredito, funcionou!!! Puxei logo os e-mail's da caixa postal e soltei devagar o conector, que continuou funcionando. Caiu novamente depois de uns 20 minutos, mas apertei outra vez e coloquei um pedaço de palito de dentes para segurar. Novamente conectado! Como sentimos falta desse conforto de comunicação quando o perdemos. Como falar, como atualizar o blog, como mandar e-mail's e respondê-los? Como me comunicar? Deu para sentir a importância da comunicação que estamos tendo e o valor dela no nosso dia-a-dia. Mas também deu para sentir o sossego da falta dela em Itaparica, onde passamos dias gostosos e tranquilos. Que paradoxo!!!
Bem, barco fora da água! Que bom... e que mau!!! Sim, bom porque podemos começar a fazer algumas coisas que precisamos no barco e que mau porque nosso conforto mudou muito. Imaginem, estamos “embarcados em terra”. Não podemos usar os sanitários do barco, porque eles puxam água salgada (que não temos mais sob o barco) para lavar os vasos e jogam os resíduos para fora, ou seja, atualmente, no meio do pátio da marina! Bem, vamos usar a estrutura da marina! Só que para isso, temos que descer uma escada vertical de 4 metros, amarrada ao barco, mas que nos dá insegurança por não estarmos acostumados com ela. E depois sair correndo para o banheiro, que fica a 50 metros. Nossa, nunca 50 metros foram tão longos! Como tudo é relativo! Não podemos usar água dos tanques e as pias, porque tudo vai para o pátio e para a tinta que vai ser colocada, molhando-a. Dessa forma, não podemos lavar louças e cozinhar fica complicado, sem ter como lavar panelas. Ainda temos a sensação de insegurança por estarmos tão alto, acomodados numa carreta.
Bem, vamos nos adaptar à situação! Amarra melhor a escada. Sobe e desce de dia para acostumar. Testa usando chinelos e descalços. Libera o balde para uma “eventualidade” noturna. “- Baaaaldeeee?!!”. Aliás, isso gerou um papo interessante sobre o uso de banheiros dentro das casas, que só começou realmente nos últimos cem anos. Antes eram usados penicos e as “casinhas”, normalmente colocadas atrás das construções principais e longe destas (quando havia!). O cheiro insuportável de algumas grandes cidades dos séculos passados também tinham o acréscimo do costume de descarregar os penicos dos quartos diretamente para as ruas (e ai de quem estivesse passando perto da janela na hora!). Para quem ainda não leu “'1808” e “Perfume”, são livros muito bons que retratam essas situações e eu recomendo.
Mas duro, muito duro ainda, foi ter que recusar o convite dos amigos Hugo e Catarina para ficarmos no lindo e confortável hotel deles em Itapuã e o convite dos Hagge para ficarmos em sua casa. Se não ficarmos por aqui, que é longe de tudo e de todos, não podemos dar andamento nas coisas que precisam ser feitas no barco.
Foi um dia “atravancado”, mas com muitas histórias para contar!!!
Levantamos às 7:40 hs para voltar a Aratu, pois precisamos puxar o barco hoje. Eu estava um pouco melhor, apesar da noite mal dormida por causa da febre. Quando começamos a sair, vimos dois lindos saveiros, os barcos que antigamente eram usados para fazer todo o comércio na região, velejando! Como são lindos e como navegam bem, com sua mestra enorme e uma pequena, mas importantíssima bujinha! Seu mastro é feito de biriba, madeira extremamente flexível e resistente, também usada para fazer o famoso berimbau.
O vento estava gostoso e favorável. A travessia estava muito boa, mas entreguei o comando para a tripulação e fui descansar, para me recuperar totalmente. Quando atravessamos a baia e chegamos perto das marcações de entrada para a ilha de Maré, voltei e assumi o comando. Entrando no canal, alguém olhou para trás e viu um enorme navio entrando no mesmo canal que estávamos. Encostei no lado esquerdo do canal e deixei o “bichão” passar, com alguma preocupação por parte da tripulação. Navios têm prioridade em entradas de canal, por terem baixa manobrabilidade em locais apertados. Ele passou bem, fomos atrás dele e entramos no canal de Aratu. Ele parou após a fábrica de bolachas (ai, que cheiro bom!!!) e três rebocadores o giraram 180 graus, enquanto passávamos encostados na boia de entrada da baia de Aratu.
Liguei para a marina, combinei a puxada para mais tarde e fizemos um churrasco. Este quase não saiu, pois havia acabado o álcool líquido do barco. Ventava forte, situação ótima para fazer churrasco quando temos álcool. Mas quando não temos... problema! Tentei acender o fogo com álcool gel e o danado nem pegava fogo. Coloquei dois acendedores próprios para churrasqueiras e quem diz que acendiam? Gastei uma caixa de fósforos e mais da metade deles apagavam antes de tocarem a brasa. Tentei colocar papel queimando embaixo do carvão, que estava pequeno, perfeito para acender churrasqueiras, e nada! Só fumaça. Já sei; pinga! “- Jonas, pega uma garrafa de pinga aí dentro! Pinga, hein, não cachaça!”. Lá veio a pinga, derrubada com parcimônia e muita dó sobre a brasa. Encostei o palito acesso e nada. O vento apagava o fogo. Idéia: “- Vou pegar o maçarico portátil do barco!”. O maçarico não acendia de jeito nenhum! Levei o maçarico para dentro do barco e o acendi no fogão. Ao sair do barco, antes de chegar na brasa, o vento o apagava! Já estava desistindo do churrasco e pensando em esquentar a frigideira, quando resolvi tomar uma atitude drástica: lasquei gasolina do motor de popa, com óleo dois tempos e tudo, no carvão e toquei fogo! Lindas labaredas subiram e torci apenas para não estragar o gosto da carne. Deixei queimar bem antes de colocar a carne e o churrasco ficou ótimo. Nunca mais vou deixar faltar álcool no barco!!!
O próximo capítulo do dia foi a puxada do barco. O Marcelo, funcionário da marina veio ao Travessura e o comandou para colocar na carreta. Puxa daqui, empurra dali, ajeita acolá, tira de novo, põe outra vez, mergulha, amarra, empurra com o bote, empurra com os dois botes e, depois de mais de uma hora de trabalho cuidadoso, com um grupo de várias pessoas, fora e dentro da água, o Travessura estava em seco para pintar o fundo, com as tintas anti-incrustantes fornecidas pelos nossos apoiadores Zirtec e WEG Tintas! Que sufoco. O trabalho dos rapazes foi excelente, mas sempre dá um frio na barriga de qualquer dono de veleiro vê-lo ser retirado da água. Sucesso!
Fui ligar a internet, pois havia ficado sem comunicação em Itaparica, e não ela não funcionou! O problema, então, não era falta de sinal em Itaparica. Deve ser o modem ou cabo de conexão. Toca tirar cartão, recolocar cartão, apertar modem, trocar fio, trocar porta USB e por aí vai! Resolvi dar umas “porradas” nele, antes de atirá-lo do convés para quatro metros abaixo. Nada! A cada mudança eu fazia um teste, tendo que ligar e desligar o notebook!!! Imaginem minha paciência como estava. Resolvi apertar bem o conector do chip e segurá-lo. Liga de novo o computador e... funcionou! Funcionou! Não acredito, funcionou!!! Puxei logo os e-mail's da caixa postal e soltei devagar o conector, que continuou funcionando. Caiu novamente depois de uns 20 minutos, mas apertei outra vez e coloquei um pedaço de palito de dentes para segurar. Novamente conectado! Como sentimos falta desse conforto de comunicação quando o perdemos. Como falar, como atualizar o blog, como mandar e-mail's e respondê-los? Como me comunicar? Deu para sentir a importância da comunicação que estamos tendo e o valor dela no nosso dia-a-dia. Mas também deu para sentir o sossego da falta dela em Itaparica, onde passamos dias gostosos e tranquilos. Que paradoxo!!!
Bem, barco fora da água! Que bom... e que mau!!! Sim, bom porque podemos começar a fazer algumas coisas que precisamos no barco e que mau porque nosso conforto mudou muito. Imaginem, estamos “embarcados em terra”. Não podemos usar os sanitários do barco, porque eles puxam água salgada (que não temos mais sob o barco) para lavar os vasos e jogam os resíduos para fora, ou seja, atualmente, no meio do pátio da marina! Bem, vamos usar a estrutura da marina! Só que para isso, temos que descer uma escada vertical de 4 metros, amarrada ao barco, mas que nos dá insegurança por não estarmos acostumados com ela. E depois sair correndo para o banheiro, que fica a 50 metros. Nossa, nunca 50 metros foram tão longos! Como tudo é relativo! Não podemos usar água dos tanques e as pias, porque tudo vai para o pátio e para a tinta que vai ser colocada, molhando-a. Dessa forma, não podemos lavar louças e cozinhar fica complicado, sem ter como lavar panelas. Ainda temos a sensação de insegurança por estarmos tão alto, acomodados numa carreta.
Bem, vamos nos adaptar à situação! Amarra melhor a escada. Sobe e desce de dia para acostumar. Testa usando chinelos e descalços. Libera o balde para uma “eventualidade” noturna. “- Baaaaldeeee?!!”. Aliás, isso gerou um papo interessante sobre o uso de banheiros dentro das casas, que só começou realmente nos últimos cem anos. Antes eram usados penicos e as “casinhas”, normalmente colocadas atrás das construções principais e longe destas (quando havia!). O cheiro insuportável de algumas grandes cidades dos séculos passados também tinham o acréscimo do costume de descarregar os penicos dos quartos diretamente para as ruas (e ai de quem estivesse passando perto da janela na hora!). Para quem ainda não leu “'1808” e “Perfume”, são livros muito bons que retratam essas situações e eu recomendo.
Mas duro, muito duro ainda, foi ter que recusar o convite dos amigos Hugo e Catarina para ficarmos no lindo e confortável hotel deles em Itapuã e o convite dos Hagge para ficarmos em sua casa. Se não ficarmos por aqui, que é longe de tudo e de todos, não podemos dar andamento nas coisas que precisam ser feitas no barco.
Foi um dia “atravancado”, mas com muitas histórias para contar!!!
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