Três no Mundo

Três no Mundo
Sérgio, Jonas e Carol rumo ao Caribe e Europa

terça-feira, 31 de maio de 2011

Oi, Amigos!!! Esta postagem é só para agradecer a frequência à nossa página, o que me faz muito feliz! Só este mês, que ainda não acabou, já teve quase quatro mil e quatrocentos acessos!!! Que bom que estão gostando! Abraços grandes da tripula do Travessura!

domingo, 29 de maio de 2011

De 29/05/2011 – Ilha de Flores

Acordamos cedo, tomamos café da manhã com ovos mexidos com choriços e fomos ao trabalho. Enquanto o Jonas e a Carol enchiam o tanque do barco de água, eu mexia no motor para tentar arrumar o vazamento de óleo. Descobri que um parafuso está espanado e isso pode estar causando o vazamento. Como não tenho o que fazer aqui para arrumar isso, coloquei uma cola de alta temperatura na peça e apertei bem os outros parafusos. Vamos ver se resolve até Faial, pois lá posso comprar ferramenta e um parafuso novo para arrumar o problema.
O senhor José Freitas Serpa, que conhecemos ontem, passou para nos levar para conhecer a ilha com seu carro. Ele é um luthier (construtor de instrumentos musicais de madeira) muito famoso mundialmente e levou o Marçal e a Eneida Ceccon para passear quando eles estiveram aqui em 2005. Olhei no livro do Marçal e vi várias referências a ele, inclusive com uma foto dele.
Começamos o passeio pela ilha indo em alguns mirantes, depois passamos em sua casa, onde vimos sua oficina de trabalho e a criação de galinhas e faisões que ele tem. Seguimos pela estrada parando em vários lugares para bater fotos e admirar a paisagem, que é belíssima. A estrada é bem mantida e o único problema são alguns trechos onde houve pequenos desmoronamentos, mas logo limpos. Ela já é uma atração, pois a cada cem metros víamos lebres correndo pela estrada e se escondendo no mato. Não há lugar feio nesta ilha! Para todo lugar que olhávamos, mar ou interior da ilha, tudo era muito belo. As áreas são divididas por pedras ou por cercas vivas de hortências, que florescem em julho e criam uma paisagem única. Há várias áreas de pasto e muitas de plantações. Em muitos lugares havia áreas preparadas para as pessoas fazerem churrascos, inclusive com lenha própria para isso fornecida pelo município, que mantém as áreas sempre limpas e muito bem cuidadas.
Após passear pela ilha, fomos até Fajã Grande, onde vimos algumas pessoas tomando sol e banho de mar (haja coragem para entrar nessa água fria!). Lá há um restaurante e fomos para lá. O sr. José tirou sua viola, que ele mesmo construiu e que é uma obra de arte, com a figura de uma mulher esculpida no braço da viola, e começou a tocar fados e modinhas. Logo um outro cantor chegou e eles começaram a cantar como repentistas, mexendo maliciosamente com as pessoas que estavam no local, amigos deles, e que ficaram escutando a música. Foi divertidíssimo e um momento único! Vejam sobre ele e sua arte, com direito a vídeos dele tocando seus instrumentos, no endereço http://ilhadasflores.no.sapo.pt/jose-freitas.htm para vocês imaginarem a tarde que tivemos.
Algo lindíssimo que vimos lá, quando estávamos sentados na área externa do restaurante após o show do sr. José, foi uma cachoeira que descia de cerca de 200 metros de altura, mas a sua água não tocava o chão, pois o vento a “desmanchava” no meio do caminho. Arco-íris na cachoeira. Havia outras, mas só essa estava sofrendo o efeito do vento por causa de sua posição. Se já era bonito assim, imagine quando o sol desceu um pouco mais e começou a projetar um arco-íris na água quando ela se transformava em borrifos. Imagine, uma cachoeira que desce e se transforma num arco-íris! Era isso que estávamos vendo!!!
Saindo de lá, continuamos passeando e fomos ver as “caldeiras”, que são as crateras de vulcões extintos que se encheram de água, formando grandes lagos. Há várias caldeiras na ilha e cada uma tem uma cor de água diferente e níveis diferentes. A água de algumas delas passam para as outras mais baixas e há muita água na ilha.
Reparamos que tudo é muito bem mantido por aqui, desde as áreas públicas até as particulares. E, olhem, isso deve dar trabalho, pois o inverno daqui é muito rigoroso e com muito vento, que deve estragar muito as coisas. Mas os órgãos públicos locais estão de parabéns, pois fazem um trabalho excelente de manutenção, pensando em detalhes para melhorar a vida do povo da ilha. Quatro mil pessoas moram aqui e a educação cívica de todos é muito grande. São um exemplo para todos os lugares que vimos até agora (inclusive o nosso querido Brasil!!!).
Depois de muitos lugares lindos, onde o único “senão” foi a bateria de nossa máquina fotográfica que acabou no meio do passeio, voltamos ao barco para descansar.
Uma coisa muito legal aqui no verão é que o dia é muito comprido e permite que o aproveitemos muito bem. Anoitece perto das 22:00 hs!!!



Paisagens fantásticas de Flores!





Jonas e Carol com o sr. José, que nos levou para conhecer Flores.






Várias cachoeiras caindo de grande altura.




Esta é a cachoeira que não chegava ao solo. O efeito do arco-íris foi mais tarde, quando a bateria da máquina havia acabado.





Detalhe da moça esculpida no braço da viola do sr. José.

De 28/05/2011 – Ilha de Flores
Acordei muito cedo, com um tranco no barco. Fui ver e um dos cabos havia partido. Substitui o cabo, coloquei dois pedaços de mangueira para protegê-lo e novamente estávamos bem amarrados.
O pessoal da imigração apareceu para fazer o registro de nossa chegada. Não é uma entrada oficial, pois ela será feita em Faial, mas eles registram todos os nossos dados para documentar nossa passagem por aqui. O processo de imigração foi o mais fácil até agora. Um dos policiais pegou nossos documentos e ele mesmo preencheu todos os papéis. Enquanto isso, eu conversava animadamente com o outro policial, que pretende conhecer o Brasil e perguntou várias coisas de lá. O oficial preencheu todos os papéis, me devolveu os documentos e o papo ia longe, mas os chamaram pelo telefone para fazer alguma coisa e tiveram que ir embora. Esse é o tratamento de todos por aqui: muita simpatia e educação para os brasileiros!
Após puxar e-mail`s, limpar a caixa postal e postar alguns diários (aqui a internet é grátis na ilha toda!), resolvemos ir ao supermercado, pois tudo fecha hoje à tarde e amanhã (domingo) por aqui. Subimos a ladeira rapidinho, pois já estava quase no horário de fechar o comércio. O mercado é longe e ladeira acima. Ainda ganhamos uma carona de uma senhora, quando perguntávamos onde ficava o mercado, o que ajudou muito.
Fomos em dois mercadinhos pequenos, compramos algumas coisas gostosas como chouriço, tremoços e alguns frios fatiados e pegamos um vinho que custou apenas 1,80 euros. Conhecemos uma brasileira de São Paulo, Caieiras, num dos mercados. Daniela nos ajudou com algumas compras e falou muito bem de Flores para se viver.
Voltamos para a marina e fomos tomar um banho abundante, pois estamos precisando! Só que não há chuveiros quentes por aqui. Ou seja, a água estava geladíssima!!! O Jonas que odeia água fria encarou também, não sem muitos berros e alguns palavrões, quando abriu o chuveiro com tudo em cima dele!!! (rsrsrs!)
Começamos a arrumar algumas coisas a bordo, fomos almoçar na dona Therezinha novamente. Desta vez comemos peixe frito com batatas cozidas e não consegui resistir a tomar uma bagaceira (aguardente de vinho). Enquanto comíamos, víamos na TV um programa de culinária, falando sobre ovos moles de aveiro e leitões da Bairrada, que esperamos comer em breve em Portugal no continente. Para sobremesa, algo que eu não comia há muitos anos e que minha avó fazia sempre: queijadas!!!
Para fazer a digestão, fomos dar um passeio até o molhe e ver a paisagem.
À noite, chamamos os amigos Dorival e Catarina para tomar um vinho, comer tremoços e choriços a bordo. Foi um papo muito gostoso, sempre falando de barcos e contando as histórias da travessia.



Acima e abaixo: alguns lugares perto do porto. Tudo florido!








Luthier e Travessura lado a lado na marina de Flores!





Peixe no restaurante da Dona Therezinha. Que delícia!!!





Os amigos Dorival e Catarina do Luthier, nossos vizinhos em Flores, nos visitando.

De 27/05/2011 – Travessia St. Maarten - Açores
O mar grosso e o vento forte permaneceram durante a madrugada, mas cada vez estávamos mais perto das luzes do farol de Flores. Víamos, ao longe, as luzes de Faial também. Deve ser uma ilha com bastante gente, pois ela ainda está muito longe para vermos suas luzes.
Amanheceu eram 2:30 hs e os bordos se repetiam. Quando o Jonas acordou, assumiu o leme e isso facilitou muito nosso trabalho, pois o vento variava muito de intensidade e direção (mas sempre contra!!!) para o Cigano (o piloto automático, lembram?) levar.
Quando estávamos mais perto, vimos que a ilha é muito bela! Ela é muito escarpada, com encostas que caem vertiginosamente no mar, mas seu topo todo é cheio de plantações. Entre os campos verdes das plantações, muitas vilas aparecem incrustadas na sua encosta, sempre com uma linda vista para o mar. De longe parece ser muito bem cuidada e conseguimos ver que cada pequena vila tem sua igreja.
Quando nos aproximamos mais, muitos pássaros marinhos estavam sobre a água e, após levantarem voo à nossa passagem, vinham ver de perto o Travessura. Um chegou a quase esbarrar no estai de popa, na mestra e no tope do mastro, de tão curioso. Só temi pela sua integridade, quando ele chegou perto do gerador eólico (que parece um grande ventilador, sem a proteção gradeada), que girava doidamente. Por sorte ou intuição, manteve a distância apropriada do perigo, para não virar “pássaro fatiado”.
Ronny mandou uma mensagem, sugerindo um ancoradouro abrigado do lado oeste da ilha, mas não temos detalhes do lugar nas cartas digitais que temos. Conseguimos contato com o Dorival pelo rádio e ele nos disse que as condições no porto não estavam boas e que a entrada na marina era muito arriscada, mas que começaria a melhorar na parte da tarde. Aliás, disse que estavam quebrando ondas dentro da marina e que estava péssimo para ficar lá. Fomos dar uma olhada na ancoragem, para ver se estava balançando menos do que velejando, mas desistimos dela. Um grande veleiro, três vezes maior que o Travessura, parecia um “brinquedo” sendo jogado pelas ondas para um lado e para outro. Optamos pelo mais seguro: sair do porto, abrir um pouco de genoa e ficar navegando devagar a barlavento da ilha. Mesmo com ondas balançado um pouco o barco, não há os trancos da âncora e nem a chance de arrebentar cunho, corrente, ou cabo de amarração e irmos parar nas pedras. Para quem já está vinte dias balançando no mar, mais uma tarde ou mais um dia não é problema.
Na parte da tarde o vento diminuiu um pouco e nossa opção de continuar velejando perto da ilha se mostrou bem confortável. Descansamos, comemos um risoto a parmiggiana com frango (da Tio João, ainda brasileiro!) e ficamos lendo e fazendo algumas coisas no barco. Dorival sempre nos chamava pelo rádio e informava as condições do porto. Após seis horas navegando, vimos que as ondas haviam diminuído e o vento também. Dorival nos disse que dava para entrar no porto e que poderíamos tentar, pois ele deixaria uma boa vaga liberada, para entrarmos e amarrarmos rapidamente o barco. Bem, lá vamos nós! Seguindo as instruções sempre corretas e detalhadas do Dorival, deixamos tudo arrumado, com defensas colocadas e cabos distribuídos em suas posições e entramos no porto. Seguimos para o fundo do porto à direita, obedecendo as marcações de aproximação, que aqui segue o padrão contrário ao Brasil. Víamos os veleiros na marina, chegávamos perto, mas não era fácil ver a entrada da marina. Quando chegamos bem perto, vimos porque. A entrada era muito estreita, uns 20 metros, e no meio de várias pedras, mas o local era fundo. Acabamos de passar as pedras e guinamos tudo para bombordo (esquerda), entrando num abrigado e pequeno porto. Lá, Dorival já nos esperava com um “batalhão”! Vários velejadores, dos vários barcos que estavam lá, vieram ajudar. Entrei reto de proa como havia sido sugerido e logo eles pegavam os cabos e amarravam o Travessura por todos os lados.
Que alegria!!! Agora podemos dizer que chegamos mesmo! Descemos do Travessura,agradecemos os velejadores que nos ajudaram e demos abraços no Dorival e a Catarina. O Travessura jogava muito na vaga, mas estava bem amarrado e não ia “fugir” de lá. Conversamos um pouco e eles se ofereceram para nos levar a um pequeno mercado e restaurante, que fica perto da marina. Era tudo o que os “adolas” queriam ouvir! Parece que o risoto não foi suficiente e lá fomos nós para o restaurante da dona Therezinha. Íamos apreciando tudo o que víamos e subimos uma ladeira íngreme para chegar no mercadinho. Ele é bem pequeno, ela trabalha sozinha e tem apenas duas mesas pequenas dentro dele. Já era tarde para o horário local, mas ela disse que ia ver o que podia fazer para nós. Relaxamos, andamos mais um pouco pelo local com nosso casal de amigos, e voltamos para comer. No pequeno restaurante, enquanto esperávamos a comida, víamos uma corrida de touros (tourada) na televisão e escutávamos o sotaque português por todos os lados. Logo, dona Therezinha veio com três pratos enormes, cada um contendo dois ovos fritos, dois bifes e muitas batatas fritas. Essa era a comida que eu mais gostava quando era pequeno!!! Ainda completavam o prato alguns pães e uma salada de alface. Nos fartamos de comer e, quando pensamos que já havia acabado, ela veio com mais um prato cheio de batatas fritas quentinhas! Não pudemos fazer desfeita e demos conta desse monte de batatas também. Pelo jeito vamos engordar muito por aqui!
Voltamos ao barco (ainda bem que é ladeira abaixo!) e jogava bastante. Um dos cabos arrebentara e o substituímos, colocando alguns pedaços de mangueira para protegê-los.
Fomos para a cama cansados, muito felizes e de barriga cheia, após tanta aventura. Acabávamos de realizar a maior travessia de nossas vidas e só nós três! Chegamos num lugar belíssimo, onde me sinto em casa, pois o carinho e atenção do povo português é muito grande e tudo me lembra minha casa quando pequeno. Apesar da emoção, o sono não tardou a chegar.


Amanhecendo e chegando em Flores!


Que frio!!!




Flores! Linda chegando pelo mar.




Aproados para o porto.


sábado, 28 de maio de 2011

De 26/05/2011 – Travessia St. Maarten - Açores
A noite foi dura, com ventos fortes e nós tendo que andar em orça apertada para chegarmos em Flores. Quando amanheceu, alguns golfinhos passaram ao lado do barco. A companhia deles sempre melhora os astral a bordo. Estamos velejando em zigue-zague sob vento forte, com a mestra no segundo rizo e a genoa enrolada a 2/3 de seu tamanho normal. Andamos a 6 nós, num rumo ruim e com o barco balançando bastante. Fica difícil de fazer qualquer coisa a bordo.
Recebemos mensagem dizendo que a marina em Flores está fechada devido ao mal tempo, que vem exatamente da direção para a qual o porto não a protege. Mesmo assim, resolvemos seguir para lá e nos abrigar a sotavento da ilha, pois para mudar o rumo para Faial teríamos ventos mais fortes ainda no caminho, que também seria uma orça apertada com muitos bordos no final.
Durante o dia, vimos golfinhos várias vezes! E de vários tipos. Um deles, muito bonito, tem manchas brancas compridas ao longo do dorso.
Às 18:30 hs (de St. Maarten) o vento caiu e abrimos a genoa toda. Quando eram 19:20 hs vi as luzes de Flores! Que delícia!!! Estamos a 35 milhas de distância e parece que não chegamos nunca, devido aos bordos constantes. Muitos pássaros marinhos sobrevoaram o Travessura à noite.
De 25/05/2011 – Travessia St. Maarten - Açores
A madrugada foi calma, com pouco vento e o Travessura andando a motor o tempo todo. Algumas vezes entrava um pouquinho de vento favorável, que nos permitia abrir genoa e andar mais rápido.
No final do turno da Carol, às 5 da manhã, aproveitamos para limpar o óleo de baixo do motor e completar o nível. Não está vazando quase nada agora.
O Ronny nos mandou uma mensagem recomendando não ancorarmos em Flores, pois o vento irá aumentar e entrar de uma direção ruim no ancoradouro. Portanto, iremos para a marina local. Ele também avisou que o Luthier está bem e faltam 20 milhas para chegar a Flores. Como andou o Luthier! Fico surpreso como andam bem esses barcos de cruzeiro projetados pelo Cabinho. O Makai, um multichine 28 também projeto do Cabinho, foi o campeão da Refeno de 2008.
Às 8:30 hs, o vento rondou para nordeste e entrou bom, permitindo desligar o motor e velejarmos a todo pano em orça apertada a mais de 5 nós. Pena que o rumo não nos leva direto para Flores!
No meu turno eu vi um veleiro pela bochecha de bombordo. No turno do Jonas ele viu golfinhos duas vezes, dois veleiros e um barco de pesca. O trânsito está aumentando perto dos Açores!
De 24/05/2011 – Travessia St. Maarten - Açores
A noite foi tranquila novamente e mudamos nossos quartos para três horas. Depois de tanto tempo navegando, achamos que fica melhor, pois o descanso entre turnos é bem maior. Pena que descobrimos isso perto do final da travessia!
Na madrugada e no começo da manhã, tivemos que ligar o motor duas vezes, pois o vento acabara. Ainda bem que foi por pouco tempo e, em minutos, o vento voltou a aparecer para nos embalar para a ilha de Flores.
Mas, como não há bem que sempre perdure e mal que nunca se acabe, o vento perdurou até as sete e meia da manhã apenas. Ligamos o motor e seguimos no rumo reto para Flores. Ao fazer a navegação, vi que faltam 252 milhas para chegar lá. Sempre no final de uma grande travessia, ficamos ansiosos para chegar, mesmo com a sensação que poderíamos ficar muito mais tempo navegando, sem precisar voltar para terra. Acho que é a vontade de conhecer lugares novos.
Quando estava no meu turno, de manhã, vi algo cilíndrico e preto ao longe. Mudei o rumo para ver mais de perto e deparei-me com um grande bujão de ferro, todo enferrujado. Devia ter mais de um metro e vinte de altura, por quase um metro de diâmetro. Se batêssemos num troço desses à noite, em alta velocidade, o mínimo que iria acontecer seria um susto enorme!
Quando o Jonas e a Carol acordaram, fiz panquecas para o café da manhã, pois o mar está bom. Assim economizamos nossas torradas para dias ruins para cozinhar.
No turno do Jonas, um grande veleiro passou em rumo paralelo ao nosso e nos deixou para trás. Todos que cruzam o Atlântico nesta época, fazem questão de parar nos Açores.
À tarde, os “adolas” fizeram aulas de francês e, no começo da noite viram o filme “Senhor dos Anéis” em inglês com legendas.
Continuamos com motor e vela pela noite adentro.


Grande tambor no caminho.


Panquecas de queijo suíço com copa para o café da manhã.


Nossa rotina: sempre um lindo pôr-do-sol.

De 23/05/2011 – Travessia St. Maarten - Açores
O vento apertou e folgou após amanhecer, tornando nossa velejada bem mais rápida, eu diria, alucinante! Um veleiro bem mais lento se aproximou de nós vindo a motor pelo través. Colocou-se paralelamente a nós e deve ter começado a velejar com a melhora do vento, mas em pouco tempo ficou bem para trás, pois andava dois nós menos que o Travessura. Tudo isso deduzido das informações do AIS (santo aparelhinho!).
O Luar mandou mensagem que chegou a Flores. Fizeram uma ótima viagem. Essa janela que o Ronny descobriu foi ótima!
Com o aperto do vento, tivemos que rizar e soltar os rizos várias vezes. No Travessura, da forma como todos os cabos chegam na entrada da cabine, fica moleza e não temos que ir até o mastro. Até a Carol sozinha tem condições de rizar o Travessura se precisar. Como sempre digo, quanto mais velejo no Travessura, mais gosto dele!
Fiz a navegação e vi que já andamos duas mil milhas nesta travessia. Faltam 350 milhas, que esperamos cumprir nos próximos três dias.
A lua tem nascido bem tarde na madrugada, proporcionando lindas noites estreladas. É engraçado, mas ainda não me acostumei com a posição das estrelas no céu, que é bem diferente da posição delas na nossa região. É gostoso, pois parece sempre um céu “novo”.
De 22/05/2011 – Travessia St. Maarten - Açores
A noite e a madrugada foram excelentes para dormir e descansar, mas ansiávamos por vento. Ele voltou às 7:30 hs e veio de uma boa direção. Ronny nos mandou a previsão de tempo e falou que os ventos fortes previstos ontem perto dos Açores na época que devemos estar chegando lá, não se confirmou na previsão de hoje. Que boa notícia! Chegar lá com pauleira e, ainda por cima, na cara, não ia ser nada confortável.
O vento apertou mais um pouco e nossa velocidade subiu bastante. Um navio passou a meia milha de nós, em rumo paralelo mas contrário, às 11 horas. Alguém havia deixado o AIS com o alarme desligado! Às vezes, precisamos desligar o alarme pois ele fica tocando toda hora com um navio perto, mas deve ser religado quando o navio passa. Ainda bem que a Carol estava bem atenta em seu turno (como sempre!). Redobramos o cuidado com o alarme e colocamos como regra que, sempre que entrarmos em turno, devemos verificar se ele está ativo.
A tarde foi tranquila, com estudo de francês e um macarrão com aliche e nossa última cebola para o almo-janta.
É impressionante com o mar continua bom. Não esperava encontrar mar tão calmo e liso nesta região, mesmo com grande profundidade. Isso facilita demais as coisas a bordo.


Navio com pirajá ao fundo.


Navio que passou a meia milha.

De 21/05/2011 – Travessia St. Maarten - Açores
A noite foi tranquila novamente, com bom vento e mar calmo. Ao fazer a navegação de manhã, constatei que velejamos 146 milhas nas últimas 24 horas. Muito bom também! O problema é que nosso ângulo de navegação não está muito bom para irmos para Faial, pois estamos numa orça apertada o tempo todo. Fazendo os cálculos, acho que mudaremos nossa primeira parada para a ilha de Flores (lindo nome para uma ilha, não?!), pois é mais perto 82 milhas e ela fica 10 graus a sotavento de Faial, o que facilita muito o nosso andamento.
Nosso café da manhã foram ovos mexidos com torradas e wrap's de queijo para completar. Foram os últimos wrap's. Quando experimentamos as torradas, vi que errei em não trazer mais delas. Mas era arriscar demais trazer algo que ainda não havíamos experimentado. Algumas outras coisas estão acabando, mas temos bastante comida ainda e parece que faltam poucos dias pela frente.
No meio da tarde, alguns golfinhos apareceram e ficaram brincando na proa do barco por uns 10 minutos. São sempre bem-vindos e sinal de sorte. O Travessura leva um desenho de golfinho em sua proa.
O vento acabou às 5 da tarde. Motoramos durante uma noite muito linda e estrelada e aproveitamos para descansar bastante, pois o barco fica mais reto e joga menos.


Golfinhos apareceram.


Vendo os golfinhos!!!

De 20/05/2011 – Travessia St. Maarten - Açores
Toda a madrugada tivemos vento e continuamos andando muito, sempre perto ou acima dos sete nós. O dia amanheceu bonito e o vento não parou. Recebi mensagem do Luar, que está bem mais perto dos Açores do que nós, e eles estão com pouco vento lá.
O Pimenta também mandou uma mensagem, dizendo que o Spot não registrava nossa posição desde quarta-feira. Tentei mandar outra e vi que o botão piscou vermelho, avisando de bateria baixa. Troquei as pilhas e tentei outra vez. Escrevi pedindo para o Pimenta postar no nosso blog que está tudo OK conosco, para sossegar quem está acompanhando a travessia.
Durante a manhã e o começo da tarde, com todos regulando as velas continuamente, seguimos velejando alucinadamente. Mesmo assim, o barco não está muito inclinado e consegui arrumar a bomba de porão, pois a válvula de retorno emperrou e não permitia que a bomba jogasse fora um pouco de água que se acumulava no fundo do barco, basicamente da pia do meu banheiro, que a descarrega no porão.
Encontramos um peixe voador grande no convés. Era um desse tamanho que me acertou na testa quando íamos para as BVI !
O mar liso que estamos pegando ajuda bastante a navegação. As ondas não seguram o barco e podemos desenvolver velocidades maiores e mais constantes.
No meio da tarde, o Jonas e a Carol resolveram fazer uma sessão cinema na minha cabine. Estão curtindo bastante os dias sossegados que estamos passando.
O Pimenta me escreveu dizendo que as mensagens de Spot começaram a chegar outra vez. Eram as pilhas mesmo. Aproveitei e fui fazer a navegação: andamos 150 milhas hoje! Ótimo para uma situação sem correnteza ajudando.


Sossego na travessia!


Peixe voador que caiu no Travessura.


DVD no ssossego durante a viagem.

De 19/05/2011 – Travessia St. Maarten - Açores
Que velejada gostosa! Numa orça folgada, íamos fazendo uma média de 6 nós e meio de velocidade e o barco pouco balançava. A noite foi assim, de turnos tranquilos mas alta velocidade. Passávamos algumas horas fazendo mais de 7 nós de média, com tudo tranquilo dentro do barco. Assim, todos conseguem descansar com a sensação gostosa de estarmos andando bem.
O Ronny passou sua posição e rumo de manhã, além de várias informações sobre o vento nos próximos dias. Ele segue num rumo direto para os Açores e, ontem, o Luthier também já seguia o mesmo rumo. Eu preferi me afastar um pouco mais da região de pouco vento, mas após receber uma mensagem do Pimenta, que também está nos ajudando com a meteorologia, resolvi arribar 10 graus e seguir direto como os outros. E minha única dúvida era se o vento não iria “negar” depois, entrando na cara. Puxei o arquivo do Ugrib pelo telefone via satélite e vi que isso não deve acontecer. Bem, vamos esquecer o ditado “orça e canja de galinha não faz mal a ninguém” e vamos reto para os Açores.
Todos estão lendo muito no barco. A Carol está acabando “Grande Sertão: Veredas”, eu acabei “O Homem Que Falava Com os Mortos”, sobre Chico Xavier e o Jonas acabou o livro “Izabel, Isabela, Ilhabela”, da amiga Maria Luiza, que ele ainda não havia lido e gostou muito. Fora esses, os recentes, eles já leram muitos outros desde o começo da travessia.
No começo da tarde, um navio passou a duas milhas de nós. Estamos na rota deles novamente. Ontem à noite, dois navios passaram a mais de 10 milhas e só soubemos deles pelo “santo” AIS.
Já imaginaram um equipamento portátil que fosse rádio VHF, AIS, GPS e localizador pessoal (estilo SPOT) tudo junto?!!! Que maravilhoso equipamento de socorro seria!!!
À noite, o vento orçou um pouco e rizamos a mestra para seguirmos mais descansados. Como diziam, “à noite, todos os gatos são pardos”! Passamos a noite andando muito e aproveitando bem o vento que temos, pois a previsão para amanhã é o vento diminuir.
De 18/05/2011 – Travessia St. Maarten - Açores
Quando o Jonas foi para seu turno, abriu a genoa. O vento apertou mais as 7 da manhã e aproveitamos para desligar o motor e abrir a mestra. Era uma orça apertada, com o vento vindo de nordeste e nós indo para leste, mas como é bom velejar novamente! Velejamos bem por 4 horas, mas aí o vento parou. Aproveitei para fazer o café da manhã, pois com o barco balançando muito, todos que não estavam no turno preferiram ficar na cama até mais tarde.
Aproveitando que o barco não estava mais adernado, abastecemos novamente de diesel e removemos o óleo do porão.
O vento melhorou novamente na parte da tarde e andamos mais duas horas a vela. Quando sossegou outra vez, aproveitamos para tomar nosso banho (a água está cada vez mais gelada!!!) e fazer nosso almo-janta.
No final da tarde, víamos nuvens bem escuras ao longe. Fomos nos aproximando e nenhuma brisa soprava. Começamos a ver o DVD, mas eu não tirava o olho das nuvens, que estavam cada vez mais perto. Era uma grande massa de nuvens pretas e baixas e a impressão delas aumentava pois a lua subia por trás delas e iluminada, com uma luz amarelada, a parte inferior delas, para onde nos dirigíamos. Parecia um imenso portal. E, na realidade, era. Estávamos chegando na zona de transição do vento. Passamos embaixo das nuvens sem problemas e, no turno do Jonas uma hora depois, o vento virou para sudeste ficando logo firme. Abrimos velas, desligamos o motor e seguimos a boa velocidade numa orça folgada, nos afastando da zona de transição, num ótimo rumo para os Açores.
De 17/05/2011 – Travessia St. Maarten - Açores
A noite foi muito tranquila, mas a passamos andando a motor. Comecei a organizar um novo livro ontem. Dá gosto escrever e ler em calmarias.
O amanhecer foi belíssimo novamente! O dia clareando de um lado e a lua se pondo alaranjada do outro. Pouco tempo depois do amanhecer, um grupo de 7 ou 8 golfinhos se aproximaram do Travessura e fizeram seu balé na proa. Chamei o Jonas e a Carol, que levantaram rapidamente. Pena que ficaram pouco tempo conosco! Mas, passados alguns minutos, vi duas baleias com o dorso negro se levantarem a uns 200 metros do barco. Só as vi uma vez, pois não tornaram a subir à tona.
Continuamos motorando e, às 11 horas da manhã, abastecemos o tanque com diesel e removemos o óleo que vazou para o porão com uma bomba manual. Colocamos o óleo num bujão para descartar em Açores.
Motoramos a tarde inteira e recebi posições do Luar e Luthier pelo telefone. Eles já estão com vento favorável e a proa para os Açores. Falta pouco para chegarmos nesses ventos também. A melhor tática para pegá-lo é ir direto para leste a motor e passar logo a zona de calmaria.
Quando eram 3 horas da tarde, comemoramos 10 dias de travessia, com 1.196 milhas navegadas.
À noite, como estava tudo calmo, fomos para o cockpit e vimos um filme em DVD.


Olha o que o sol fez com estas nuvens ao amanhecer! Show!!!






Golfinhos nos visitaram durante o dia!




A linda mas perigosa caravela!!!

De 16/05/2011 – Travessia St. Maarten - Açores
Hoje é aniversário da Carol: 16 anos feitos no meio do Atlântico! Isso sim é uma forma diferente de comemorar. Fiz o turno dela da madrugada e, como presente, a deixei dormir bastante. Os turnos do período noturno foram bons e relaxantes, com uma lua praticamente cheia a nos acompanhar.
Quando amanheceu, passei o turno para o Jonas e, depois, às sete, chamamos a aniversariante e a cumprimentamos. Fiz um café da manhã especial para começar as “comer”morações!
O Luar enviou uma mensagem dizendo que eles e o Luthier estão motorando, pois acabou o vento totalmente onde estão. O vento “miou” de vez para nós também e ligamos nosso “vento de porão” (motor), passando a andar a 4,7 nós. Esperei o motor esquentar e aproveitei para procurar o vazamento de outro dia. Foi duro achar, mas é simples de resolver: é um problema numa junta de um encaixe da bomba de água do motor. É um vazamento fácil de arrumar quando chegarmos nos Açores e muito pequeno para arriscar a mexer aqui: se um parafuso quebra, ficamos sem motor. Aproveitei e só apertei mais um pouquinho os parafusos de fixação. Iremos colocando óleo até lá (tenho bastante) e recolhendo o óleo que for para o porão com uma bomba manual.
Outro presente para a Carol foi fazer um telefone para quem ela quisesse. O telefonema satelital é caro e não podemos ficar gastando nossos créditos (é pré-pago), sob o risco de ficarmos sem comunicação, mas valeu a pena. Ela ligou para a avó toda feliz! Pouco depois, chegou uma mensagem no celular: “Parabéns para a Carol! Um niver diferente! Muitas velejadas nessa vida. Pimenta, Hill, Antonio e Ro, Armando e Boteco 1, etc...”. Ela ficou muito contente, gente, obrigado! Como é bom poder se comunicar com gente querida!
Na parte da tarde tomamos nosso banho, tomando cuidado para não pegarmos nenhuma caravela quando apanhávamos água com o balde. Está cheio delas por aqui, das grandes e das pequenas. Quando olhávamos do barco para a água, com o sol por trás de nós, víamos os raios de luz penetrarem no mar e se encontrarem justamente onde está a nossa vista, ou seja, na sombra de nossa cabeça, que víamos no mar. O efeito é lindíssimo e parece que os raios de luz saem de nós!
O almo-janta, a pedido da Carol, foi sua comida predileta: macarrão a bolonhesa, usando uma carne enlatada que achei no mercado. Ficou muito gostoso e não ficou devendo nada para a macarronada tradicional. O final da tarde foi para curtir música, escrever diários, ver filmes, ler, etc. Antes de anoitecer paramos o motor e fui verificar o vazamento. O óleo estava no nível certo e muito pouco óleo havia no porão. Parece que o aperto conseguiu diminuir violentamente o vazamento. Que bom!
O mar está alisando cada vez mais e só vemos água ao nosso redor. Uma linda lua cheia nasceu antes do sol se pôr de forma deslumbrante! Amigos, é lindo demais uma calmaria numa situação dessas!!!


Prato de macarrão à bolonhesa para nossa "comer"moração!


Lua muito cheia subindo. Veja os reflexos do sol por trás no estaiamento!!!

De 15/05/2011 – Travessia St. Maarten - Açores
Foi uma madrugada bem sossegada, sem nenhum pirajá, vento constante e nenhum barco avistado. Acho que saímos das rotas normais de navios, pois faz tempo que não vemos mais nenhum.
Durante a madrugada, o Jonas comeu o resto do risoto de ontem. Que apetite! Nada abala a fome do grande marinheiro!!! (rsrsrs!) Detalhe: ainda detonou um pacote de Pringles comigo e me acordou às 8 horas da manhã para meu turno dizendo que estava com fome! Minha avó diria: “- Benza Deus!”
Uma calmaria está se aproximando e estou tentando definir o que fazer a partir dela. Subir para o norte ou descer para o sul. Vou esperar uma previsão mais atualizada para decidir. Temos só mais três dias de diesel para usar e eles têm que ser bem empregados.
Com a tranquilidade, estou podendo ler um pouco. A Carol e o Jonas também lêem muito e vêem vídeos, tocam violão e escutam música. Mas todos sempre estamos ligados ao nosso mundinho flutuante e cada mudança de vento e ondas é percebida por todos.
As noites estão bem mais frias mas os dias são quentes e agradáveis, mesmo estando no paralelo 30.
Na parte da tarde o vento diminuiu bastante, mas voltou a soprar no começo da noite. Dava para andar a uns 4,5 nós e economizar diesel ainda.
De 14/05/2011 – Travessia St. Maarten - Açores
A manhã, tarde e madrugada foram com ótimo vento favorável por trás, de 15 a 20 nós. Montamos o pau de spinnaker pequeno na genoa e deixamos a mestra abaixada. Para o almoço, fiz um risoto de frango com creme de leite, que fez sucesso. Após o almoço e um pequeno descanso, fomos ao nosso banho de baldes de água do mar. Foi um pouco difícil, pois balançava bastante, mas estávamos precisando dele.

Tirei lindas fotos no pôr-do-sol e nascer da lua.
A noite foi tranquila, com 5 nós de velocidade média e boa direção.


Cansaram de crepúsculos e pirajás? Olha mais aí!!!






A lua subia de um lado e o sol se punha do outro ao mesmo tempo!